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As 20 dicas a quem queira ajudar algum deficiente visual


Introdução:

tendo em vista as campanhas a respeito de inclusão e responsabilidade social tão na moda hoje em dia, muitas pessoas super bem intencionadas estão fazendo grande confusão a respeito de como e quando ajudarem os deficientes e, sobretudo, no caso presente, os visuais, os quais estão mais expostos ao envolvimento; isto significa: deles, os outros podem aproximar-se sem pedir licença; podem olhar para eles e observá-los à vontade, sem que sejam notados... pegam neles sem que tenham tempo de reagir e assim por diante.

Portanto, na tentativa de iluminar esta sociedade cheia de boa vontade, alguns deficientes visuais, assistente social, fisioterapeuta e professor, estudantes, resolveram trocar idéias e montar 20 dicas que podem ser úteis.

Antes de transmiti-las, apenas alguns esclarecimentos: os deficientes aqui referidos são pessoas que já adquiriram relativa independência, que enfrentam desafios e tentam superar as próprias limitações. Os deficientes, como as outras pessoas, são diferentes entre si; cada um tem sua própria história, suas crenças e valores.

Ainda há muitos que vivem à mercê de seus pais, cônjuges e filhos e não podemos julgá-los. Força é algo interior e pessoal. Esses, neste texto, não precisam ser considerados. Estamos referindo-nos àqueles que, com ou sem dificuldade, andam pelas ruas, trabalham, em casa ou fora, possuem apenas a deficiência visual, estão inseridos em grupos sociais, enfim, na medida do possível, buscam chegar bem perto do comum das pessoas


1ª - Se encontrar um deficiente visual na rua ou em algum lugar público, não o conhecendo, jamais lhe pergunte, a queima-roupa, onde vai ou onde quer ir. Esta pergunta é invasora e indiscreta, sendo bem aceita apenas por conhecidos.

Pergunte-lhe, simplesmente: "Quer ou precisa de alguma ajuda?"


2ª - Se oferecer-lhe ajuda e ele não aceitar, não insista nem se melindre com isto. Se, por um lado, você se sente no dever de ajudar, por outro lado, ele tem o direito de não querer ser ajudado.


3ª - Se estiver sentado em um transporte coletivo e vir aproximar-se um DV do seu lugar, com o intento de ser gentil, você pode até perguntar se ele quer sentar-se, mas, caso ele lhe agradeça e não queira a gentileza, não fique discutindo, alegando que é perigoso ficar de pé, que ele poderá cair e tudo mais. Lembre-se de que deficiência visual não é sinônimo de impossibilidade de equilibrar-se. Para o equilíbrio, bastam as mãos e as pernas. A visão, neste caso, não faz nenhuma falta.

Além do mais, esses comentários abaixam a auto-estima da pessoa. Assim, em vez de ajudar, você estará atrapalhando.


4ª- Não fique pedindo a terceiros que cedam seu lugar para o DV, primeiramente, porque ele sabe falar por si mesmo, caso queira pedir algo; depois, você nem sabe se ele quer o lugar, criando, assim, uma situação constrangedora para ele e para a outra pessoa, sem pensar que você próprio poderá passar vergonha, no caso dele ou da outra pessoa não concordar com você. Já houve brigas feias por causa disto e não vale a pena.


5ª Jamais fale em nome de um DV. Ele é capaz de expressar-se normalmente, sem a intervenção de terceiros. Se quem está relacionando-se com o deficiente insistir em usá-lo como intermediário, educadamente, peça-lhe que se dirija, sem medo, ao outro.


6ª - Quando estiver prestando alguma ajuda, jamais fique dizendo frases de suposta solidariedade, como: "é duro não enxergar; Ne?" "Para a gente que vê já é difícil;

imagine para vocês!" Assim, em vez de mostrar-se um bom companheiro, você estará colocando-se em uma posição de superioridade, criando uma barreira entre si e seu auxiliado.


7ª -- Quando estiver acompanhando um DV, jamais fique insinuando que ele deveria ter um acompanhante. Se ele está sozinho, é porque não está precisando de outra pessoa o tempo todo, apenas de um facilitador para algumas situações, como em travessias difíceis e tal facilitador, algumas vezes, pode ser você mesmo. . Além disto, você está ajudando porque quer e não tem o direito de ficar dando opinião sobre o que ele deve fazer. Colaborar com alguém, de vez em quando, seja no que for, é uma responsabilidade social conferida a todos nós pelo próprio Deus, como prova de gratidão pelas dádivas recebidas.


8ª - Quando estiver andando ao lado do DV, não precisa ficar o tempo todo avisando-lhe subidas e descidas. Ofereça-lhe o cotovelo e, sentindo seus movimentos, ele o acompanhará sem dificuldade. Aproveite para falar outros assuntos.


9ª - Jamais ofereça ajuda, sob o pretexto de que para o DV é difícil fazer o que quer que seja. É comum alguém chegar à casa de um DV, principalmente mulher e querer tomar a frente nos serviços. Isto, em vez de gentileza, é falta de respeito com a privacidade da outra pessoa, além de subestimá-la.


10ª - Se possível, antes de tocar na pessoa do DV, cumprimente-o ou dirija-lhe alguma palavra. O toque, por mais bem intensionado que seja, é muito invasor, principalmente quando se trata de quem não pode ver.

A invasão do toque pode estender-se também aos objetos de apoio utilizados pelas pessoas com deficiência: bengala branca, moleta, cadeira-de-rodas, etc. Há pessoas que dizem que pegam direto porque não sabem o que falar. Digam-lhe apenas o motivo porque o estão tocando: um buraco, um orelhão, uma caixa de correio, um carrinho de papel ou coisa parecida, objetos que a bengala branca às vezes não identifica a tempo. Abrindo um parêntese: se o obstáculo não for demasiado perigoso, como esses que foram citados, deixe a pessoa à vontade, porque, talvez, aquilo seja até uma referência para ela, no caso de passar sempre pelo mesmo lugar.


11ª -- Não fique querendo ensinar as pessoas que não enxergam a fazer as coisas. Elas têm seu próprio jeito e experiência, que podem, aliás, ser até maiores que as suas. Portanto, mesmo que, dentro da sua razão, você pense que há jeitos melhores, dê-lhes o direito de pensar diferente.


12ª - Saiba que escada é obstáculo para cadeirantes ou pessoas que usam moleta e não para deficientes visuais. Portanto, não fique fazendo caminho mais longo em busca de rampas.


13ª - Quando ajudar um DV, não fique dizendo-lhe que está fazendo-lhe um favor, ainda mais se a idéia de ajudar tiver partido de você. Isto causa humilhação e até antipatia Também, educadamente, desaprove quem ficar exaltando exageradamente seu gesto, nobre, na verdade, mas não tão heróico assim.


14ª - Jamais fique insinuando que a ajuda sua ou de quem quer que seja é indispensável, porque o DV desenvolve seus próprios recursos, com os meios que Deus e a natureza disponibilizam a todos os seres. Só lhe falta a visão e, mesmo assim, os outros sentidos, bem trabalhados e estimulados, substituem-na em vários aspectos.


15ª - Não trate o DV com excesso de mimo e com super proteção, como se estivesse lidando com uma criancinha ou um doente. A limitação visual como qualquer outra, se bem trabalhada, torna as pessoas fortes, desafiadoras, maduras e independentes, não necessitando de excesso de cuidados. Além disto, é bom que se saiba que super proteção é preconceito velado.


16ª - Não fique pegando no DV quando ele estiver subindo ou descendo de um transporte coletivo. Isto só incomoda. Aliás, falando em transporte coletivo, aqui vai uma recomendação especial para motoristas e cobradores que atuam nesses ônibus comuns, ou seja, aqueles que não são bi-articulados ou ligeirinhos. Vocês não precisam sair do seu posto para atenderem ao deficiente visual. Se puderem, parem o ônibus o mais próximo poss´´ivel dele. Se houver mais de um ônibus que pare no mesmo lugar, digam qual é o que está parando. Não precisam ficar avisando-lhes sobre os degraus, porque o DV que anda sozinho já está bem acostumado com a estrutura do transporte.


17ª - Não torne a limitação do deficiente visual maior do que é, querendo fazer para ele ou por ele o que pode fazer sozinho. Exemplo: é comum, quando precisa abrir uu fechar uma porta ou portão alguém correr à sua frente para fazer isto para ele e, muitas vezes, além de não ajudar, acaba atrapalhando.


18 - Evite alguns gestos que só prejudicam: puxar o braço da pessoa, sobretudo, apertando, como para segurá-la. Isto descoordena todos os movimentos e até machuca;

ficar empurrando-a pelas costas ou passando o braço por trás. Pode ser até carinhoso, mas é incômodo, pelo menos para a maioria das pessoas.


19 - Cuidado com certas perguntas ou comentários enquanto ajuda, coisas que você não diz a pessoas estranhas comuns: "Está indo dar uma passeadinha" "Passeando a esta hora?" Comentários como estes podem ser até inocentes, mas, com certeza, você não os faria para outras pessoas. Em outras palavras, você quer dizer que deficiente não trabalha nem tem grandes compromissos; portanto, pode passear a qualquer hora. Caso queira mesmo ter um diálogo, pergunte como o faria com as outras pessoas:

"você trabalha? Estuda?" A-demais, ficar perguntando a alguém se está indo passear, salvo, talvez, em um final de semana, pode até magoar, porque, às vezes, a pessoa está indo resolver uma situação triste e está bem chateada.


20ª Esta não é uma dica, mas uma reflexão: as pessoas precisam entender que excesso de ajuda e proteção humilha. Portanto, não é sinônimo de boa educação. O excesso de zelo constrange e tira a liberdade, por mais bem intensionado que seja. Portanto, não se assuste, se, às vezes, o deficiente trata você com uma certa dureza.

Ele está apenas tentando ser respeitado em sua dignidade pessoal a qual você está violando, quando o trata como um coitadinho, um inválido ou incapaz. Nem mesmo uma criança em pleno juízo gosta de ser tratada assim. O verdadeiro amor ao próximo é aquele que cria nele confiança, liberdade e auto-determinação. Quem trata os outros com excesso de proteção, na verdade, não está em uma relação de ajuda, mas de poder e manipulação. Está usando o outro e até abusando dele.

Enfim, ao ler isto, você pode estar até pensando que é muito complicado; que o deficiente visual é muito melindroso e que é melhor nem tentar ajudá-lo.

Isto não é verdade. É que ele tem os mesmos sentimentos que os outros seres humanos. Se você puser sua imaginação para funcionar, inclusive fechando os olhos de vez em quando, vai entender. Você gostaria de que, sem você poder ver, alguém lhe agarrasse ou apertasse o braço sem dizer nada? Você fica contente quando alguém lhe diz que você é incapaz de fazer alguma coisa, quando tem certeza de que é capaz? Você gosta de opiniões alheias, quando não as pediu? Então: saiba que o deficiente visual enfrenta essas coisas diariamente e quando, lá uma vez ou outra, perde a paciência por ser tão desrespeitado em sua privacidade e dignidade, chamam-no "revoltado";

"ingrato"; "complexado" "ignorante" Pense nisto; mas pense agora.


Texto assinado por Maria do Carmo Santiago.


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